Por Rose Cerqueira
É fato, a ponta da lança na maioria das revoltas e revoluções em todo mundo são estudantes. Isso devido ao ambiente de conhecimento e por ímpeto ter a deliciosa e prazerosa rebeldia juvenil que os lança contra o sistema munidos de utopias e desejos de mudança em busca de justiça. Assim tem sido em Porto Rico desde abril quando os estudantes da Universidade de Porto Rico decidiram dizer um basta a tentativa de retirada da autonomia universitária em uma memorável greve com mais de 20 mil estudantes universitários nas ruas e no campus dizendo não a privatização do ensino público do país.
No dia 21 de abril de 2010 os estudantes se posicionando contra uma nova lei que prepara a privatização da instituição, privando a universidade de recursos, assim como também a saúde, a cultura e a assistência social. Em menos de uma semana o que se tratava apenas de um movimento restrito aos estudantes tornou-se uma luta nacional. Foi como se as esperanças e os sonhos de uma nação tivessem sido reavivadas e o povo começou a identificar na luta particular dos jovens do país um projeto de nação o que fez os estudantes perceberem que a questão era muito mais profunda e isso revigorou o desejo de liberdade do povo porto-riquenho.
A lei que levou os estudantes às ruas acabou por provocar o congelamento de salários dos trabalhadores públicos e estes, por sua vez, também se organizaram e mais de 15 mil foram para as ruas defender seus direitos e os serviços públicos em geral. Como a população mais pobre depende dos serviços públicos no que diz respeito à educação, saúde e assistência social, o apoio às lutas dos trabalhadores e estudantes foi imediato.
Há cinco anos, em 2005, os estudantes universitários já haviam realizado greves, para paralisar o processo da privatização. Em quase toda a America Latina o processo de privatização se faz de forma rasteira e lenta, isso é uma realidade. Mas esse ano o estopim para a paralisação geral em Porto Rico foram as medidas de redução do orçamento e o aumento do valor da matrícula que provocou também outros setores e a explosão grevista deixou o país em uma situação insustentável.
Foram dois meses de luta firme e como sempre os estudantes enfrentaram violenta repressão. O governo ordenou fechar a instituição impedindo a entrada de água e alimentos. Apesar das medidas violentas, o povo, solidário encontrou maneiras de fazer chegar a comida e a água. A ação do governo contra o movimento despertou o país e sindicalistas, artistas e trabalhadores realizaram marchas e atos políticos contra a ordem vigente em favor da causa estudantil e da nação porto-riquenha.
O governo ameaçou suspender o ano acadêmico e declarou que a UPR iria perder sua condição de universidade pública. A alegação era que a greve era abusiva, ilegal e, por isso, não media esforços para reprimir e criminalizar a luta. Nada diferente do que acontece por essas bandas, tudo muito igual a cartilha neoliberal que o governo Lula segue quando se ousa contestar suas políticas e romper com a ordem.
Contudo, os estudantes não se intimidaram. Exigiram negociações e mantiveram a greve. O processo de mobilização popular tomou proporções gigantescas e o governo teve de recuar, abrindo negociações.
Nesse momento entrou em cena a mídia local. Travou-se uma guerra midiática. Na televisão o governo e entidades empresariais gastaram fortunas tentando convencer a população de que a greve não era bom para o povo porto-riquenho. Mas os estudantes reagiram através da “Rádio Huelga” (http://radiohuelga.com/wordpress), instrumento pelo qual mantinham diálogo com o povo, convencendo-o de que o povo unido alcança a vitória.
Os estudantes seguiram até o fim do mês de junho em resistência acampado no campus de Río Piedras. Segundo informação do site bandera.org, o governo cedeu e as manifestação deram uma pausa e os estudantes voltarão às aulas em agosto.
Os estudantes seguiram até o fim do mês de junho em resistência acampado no campus de Río Piedras. Segundo informação do site bandera.org, o governo cedeu e as manifestação deram uma pausa e os estudantes voltarão às aulas em agosto.
Durante o período acampados, os estudantes da UPR realizaram atos, fizeram formaturas simbólicas, criaram hortas comunitárias, fizeram limpeza, promoveram teatro, convocaram a população para visitar o campus, para apresentar uma proposta de uma universidade autossustentada, autônoma, e livre para pensar a realidade nacional.
Um país ferveu e a estrutura do sistema imperialista na America Latina foi abalado e o Brasil não soube porque nossa imprensa estava mais interessada em noticias as trivialidades da seleção brasileira de futebol na África a estampar para os brasileiros a força de um povo lutando em prol de um bem maior que é a sua soberania.
Veja a fala dos estudantes numa mensagem ao país!Retirado de: http://movimentoestudantilemfoco.blogspot.com/