Páginas

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

...

Eu tenho inveja.
Inveja das pessoas que conseguem acordar todo dia, tomar sua dose de cafeína (soma), ir pra faculdade decorar um conteúdo ultrapassado, anotá-la na carteira e copiar para a avaliação, almoçar uma vítima putrefata de um holocausto legalizado, ir trabalhar numa empresa de produtos supérfluos de matérias primas destruidoras de algum ecossistema, exploradora de seres sem opção, em algum resquício de país onde a lei se faz de surda e muda perante uma ajuda, que volta pra casa e se enche de produtos de beleza, para conseguir aprovação de pessoas que não se conhece enquanto tortura milhares de vidas em um laboratório, juntamente com seus analgésicos aplicados para cortar o efeito do uso de fermentados e o caralho a quatro. E vai dormir, crente de que Deus é justo e zela por todos nós...
Tenho inveja dos casais apaixonados, das madames que pintam as unhas de seus poodles, das garotas que fazem alisamento no cabelo, de quem só reclama e a preguiça mata. Dos que querem os gays trancados em seus quartos, as mulheres no fogão, os negros nos guetos. Dos que ouvem música que não diz nada.
A todos vocês, boa sorte.
Desisto. Afinal, o mundo é de vocês.

Um comentário:

  1. Susú,

    Dá pra perceber que vc escreveu este texto/desabafo num momento de mta revolta.
    Incrivelmente, soou como poesia aos meus ouvidos, creio que por gostar demais de poesia revolucionária! A única diferença entre a sua poesia e a de Brecht, acredito, é que ele não entregaria o mundo aos outros! Ele diria que o mundo é nosso e que precisamos mudá-lo!

    Bjão e continue escrevendo e lutando, os dois fazem mto bem!

    ResponderExcluir