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terça-feira, 18 de maio de 2010

Cartilha pede reação violenta a índios e ribeirinhos na região do rio Tapajós

Uma cartilha bancada por ONGs incentiva índios e ribeirinhos a resistir violentamente caso o governo federal implante um complexo de cinco hidrelétricas na bacia do rio Tapajós, entre Amazonas e Pará.
A publicação contém o desenho -segundo o crédito, feito por um adolescente- de um índio carregando a cabeça cortada de um homem branco e diálogos de histórias em quadrinhos que incentivam a luta contra a “Eletromorte” -uma referência à Eletronorte, subsidiária da Eletrobras na região.
Feita em janeiro deste ano, mas só lançada no último dia 1º, a cartilha pretende elucidar as “verdades e mentiras sobre o projeto” e vem sendo distribuída para movimentos sociais e comunidades que devem atingidas pelas hidrelétricas.
Foram impressos 10 mil exemplares da cartilha (6.000 já distribuídos), ao custo de R$ 22 mil, segundo seu criador, o padre de Santarém (1.431 km de Belém) Edilberto Sena.
O dinheiro veio, entre outros meios, de um projeto com recursos da Ford Foundation gerenciado pela Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional), fundada por religiosos, e da Aliança Missionária Francisclariana.
A cartilha é feita de capítulos, como “O porquê de tantas hidrelétricas”, nos quais o projeto é explicado e criticado.
Cada parágrafo é iniciado com a ilustração de uma marca de mão ensanguentada ou um círculo escorrendo sangue. Entre um capítulo e outro, aparecem histórias em quadrinhos, direcionadas a quem tem “menos estudo”, disse Sena.
Em um delas, uma personagem índia conversa com uma religiosa, a “irmã Marisol”, sobre as hidrelétricas.
“Preocupada” com as obras, a índia faz expressão de ódio e fala: “Mulher índia ajudar homem índio a flechar e cortar a cabeça de pariuat [branco] inimigo. Índia sabe usar facão. Nós não queremos hidrelétrica”. A personagem da religiosa diz: “Olha, filha, se deixarmos eles soltos, a Eletronorte quer afogar terras dos índios.”
Uma imagem de decapitação surge também no início da cartilha, em um desenho feito por dois meninos da etnia mundurucu, que estudam na 8ª série. Nos quadrinhos, peixes conversam temendo sua extinção.
Outra ilustração mostra o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão como um lobo mau, que usa terno e gravata e afirma que não quer se “ajoelhar aos pés do Ibama para conseguir licença ambiental”.
O padre Sena defendeu a cartilha e disse que a violência vem, na verdade, do governo. “Se um ladrão entra em sua casa e você acorda, defende sua propriedade e ele morre, quem cometeu o crime?”, afirmou.
Governo é quem agride Amazônia, afirma padre
O padre Edilberto Sena, idealizador da cartilha, diz que uma eventual reação violenta seria apenas uma resposta à maneira como o governo federal impõe hidrelétricos à Amazônia.
Em mensagem à Folha, apontou danos que o complexo previsto para o Tapajós traria. “Por que então uma cartilha reveladora desses fatos aparece como incitadora à violência?”, disse. “Quem mesmo está planejando violência e crimes? Não é a Eletronorte, a Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica], o Ibama, o Ministério de Minas e Energia?”
“Para os senhores da “Casa Grande”, criminoso foi Zumbi dos Palmares”, disse. “Quem ler a cartilha com olhar mais isento perceberá quem comete crime e incita à violência.”
Graça Costa, coordenadora da Fase em Belém, diz que a radicalização dos moradores locais em relação a hidrelétricas na Amazônia “é pública”, mas não violenta. A Fase no Rio de Janeiro diz desconhecer o teor da cartilha e e condenou qualquer incitação à violência.

Fonte: http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2010/05/17/55163-cartilha-pede-reacao-violenta-a-indios-e-ribeirinhos-na-regiao-do-rio-tapajos.html

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