Caro Mércio Gomes, 
Nós índios que estamos  revoltados com esta situação da Funai (Fundação Nacional do Índio) e com  este presidente corrupto e calculista, de mentalidade maligna. Estamos  acampados há mais ou menos três meses na frente do Congresso Nacional,  passando pelas mais difíceis situações, como frio, chuvas, muitas vezes  até fome e o pior, discriminação por muitas pessoas, que não reconhecem  os nossos direitos. Tudo isso na esperança de revogar o prejudicial  Decreto 7.056/09 do ditador Márcio Meira, com o apoio do "todo-poderoso"  Luis Inácio Lula da Silva. 
Sei que nossa luta não é em  vão, mesmo que se não vencermos esta batalha porque, para nós, índios  revolucionários, a derrota não é perder a guerra, derrota é não ter a  coragem de participar da batalha. Isso tem acontecido com muitos índios,  principalmente, aqueles que fazem parte das ONGs. Estes preferem uma  diária, um passeio aéreo, alguns almoços e jantas e dormidas em hotéis.  Estas coisas e mais um pouco compra a dignidade destas pessoas e  esquecem o seu futuro próprio, de seus pais, de seus familiares, de suas  crianças e daqueles que nem nasceram ainda. E se não levantar mais  guerreiros dignos e que tenham amor à sua nação, com certeza, não terá  um bom futuro dos nossos filhos e netos. 
Hoje, 7 de abril, estivemos  na plenária 9 da Câmara dos Deputados, assistimos reunião tratando-se da  Hidrelétrica Belo Monte, ao qual o presidente da Funai deu permissão  para que se construísse. E na Audiência Pública o mesmo não compareceu e  nem sequer mandou um representante da Funai e o pior, não trouxe um  indígena das terras atingidas para fazer a sua defesa. 
Mais uma vez, estamos  presenciando a cada instante o descaso e o abandono que nós índios  estamos sofrendo com este governo do PT.  
Veja também a situação dos  nossos irmãos Ianomami, índios ainda com a maioria sem contato constante  com a civilização e hoje com as suas terras invadidas por muitos  fazendeiros e mais de 2000 garimpeiros.  
Sem esse maldito Decreto,  essas coisas aconteciam, imagine agora ao tirar os postos das aldeias, a  estabilidade do governo federal de dentro das reservas. O que será de  nós e dos nossos parentes que estão mais distantes, nas grandes  florestas amazônicas, a muitos quilômetros da civilização? Por isso, nós  iremos brigar com este governo até o fim. Iremos procurar ajudas e  patrocínios para realizarmos uma manifestação de médio ou grande porte  na Esplanada dos Ministérios. Iremos fechar avenidas de Brasília,  fazermos protestos na Câmara dos Deputados, Senado Federal, Ministério  da Justiça e outros órgãos governamentais nesta manifestação.  
Iremos mostrar para o Brasil  qual é a intenção do governo Lula. Iremos fazer três bonecos grandes  com característica perfeita do presidente da Funai Márcio Meira, do  presidente da República Lula e da sua candidata Dilma Roussef. Iremos  queimar esses bonecos em frente ao Congresso Nacional. Também iremos,  simbolicamente, crucificar um índio e um funcionário, mostrando para o  mundo o que o PT fez com os índios e com os funcionários da Funai.  
Peço apoio de todos aqueles  que possam nos ajudar a manter o nosso acampamento e também ajudar a  trazer nossos parentes indígenas que querem protestar em Brasília.  
Atenciosamente,  
Carlos Pankararu  
Notas da ANA:  
• Mércio Gomes é  ex-presidente da Funai.  
• O Decreto 7.056/09,  promulgado pelo governo Lula, em 28/12/2009, prejudica a assistência e  proteção à população indígena. Vários Postos Indígenas foram fechados  sem substituição alguma. Vários povos indígenas foram prejudicados, e  desde então, ocorreram inúmeras manifestações de protestos no país  inteiro. Os Kaigangs no Sul ocuparam estradas e queimaram um veículo da  Funai; a Funai de Pernambuco foi ocupada e, inclusive, a própria sede  (alugada) da Funai em Brasília também foi ocupada por várias etnias  indígenas.  
• O Acampamento na frente do  Congresso Nacional, em Brasília, conta com a presença de indígenas das  etnias Pankararu, Kaigangs, Fulni-ôs, Mundurucu, Krahôs, entre outras.  
• Várias etnias indígenas  estão programando para o dia 19 de abril ("Dia do Índio") um protesto na  frente do Congresso Nacional.  
• Versão resumida do vídeo  “Xingu: porque não queremos Belo Monte”, onde comunidades indígenas e  ribeirinhas que vivem na região da Volta Grande do Xingu revelam como as  bases simbólicas e materiais que garantem sua sobrevivência serão  afetadas pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, e  reafirmam sua resistência ao projeto: http://www.youtube.com/watch?
agência de notícias  anarquistas-ana  
Bem que me agasalho.
Galhos sem folhas lá fora
parecem ter frio.
Anibal Beça
Galhos sem folhas lá fora
parecem ter frio.
 
 
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