O Pantanal é uma das maiores planícies de inundação do planeta. Com 140 mil quilômetros quadrados de extensão, é notável pela riqueza e abundância da vida silvestre.
No final da década de 80, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) estabeleceu regras e determinou sistemas de manejo adequados para a região. Jacaré é animal silvestre, protegido por lei.
Gastão Sharp e Gentil Gusmân, pecuaristas e fundadores da única cooperativa de criadores de jacaré de Mato Grosso, que fica no município de Cáceres, contam que no começo tudo era muito caro e difícil. Para viabilizar o negócio, tiveram que ir se adaptando.
"Com o tempo, nós fomos vendo que tinha uma série de dificuldades operacionais dentro do Pantanal, como alimentação. A gente dava gado nosso para o jacaré sobreviver. Ou seja, uma carne cara, em vez de conseguir miúdos nos frigoríficos. Então resolvemos em 1991 montar a cooperativa, trazendo estes animais para serem confinados em galpões fechados, com assistência técnica e outras coisas que faltavam”, conta Gusmân.
Com a cooperativa perto da cidade, eles fizeram acordos com frigoríficos que agora fornecem os restos de carne bovina para alimentar os jacarés. O custo diminuiu e o negócio começou a dar lucro.
Sistema - O sistema de produção mais usado no Pantanal ainda é o chamado ranching, ou recria em confinamento. Nesse sistema, técnicos do Ibama fazem um levantamento nas fazendas dos criadores credenciados e determinam quantos ovos cada um pode coletar.
Os ovos são colocados em incubadoras e depois que os jacarezinhos nascem, vão para tanques, onde permanecem até mais ou menos o terceiro ano de vida. Com cerca de quatro quilos, estão prontos para o abate.
Marcos Coutinho, biólogo que coordena o programa de crocodilianos do Ibama, explica que a recria em confinamento ainda é o melhor jeito de criar jacaré do Pantanal, mas o produtor tem que estar sempre atento aos custos.
“A grande vantagem do sistema ranching é que você tem os animais em confinamento e aí isso facilita uma estabilidade no fornecimento do produto. A desvantagem é que você tem que tratar todo dia, tem assistência veterinária, custo de produção, energia elétrica, alimentação que é o custo maior, todo esse manejo representa ônus que no final do dia tem que ser balanceado com a produção”, explica Coutinho.
Tanques - Nos tanques da cooperativa, ficam os jacarés de 20 criadores credenciados. Os ovos são coletados nas fazendas dos cooperados e levados para lá. São 11 galpões com 64 baias cada um.
Funcionários se revezam na manutenção dos tanques e no preparo da ração. Quando estão prontos para o abate, os animais são encaminhados para o frigorífico mantido pela cooperativa, o único da América Latina específico para jacaré.
Em julho do ano passado do ano passado, o frigorífico conseguiu o SIF, o Selo do Serviço de Inspeção Federal. A carne agora pode ser vendida para outros estados e até para o exterior. Para incentivar o consumo, o Sebrae elaborou até um livro de receitas.
Produtor independente - Selden Silva é hoje um dos únicos produtores independentes do município de Cáceres. Ele prefere manter os jacarés em tanques próprios. Há mais de dez anos na atividade, nem acha a tarefa tão difícil. “Jacaré quase não dá trabalho, de manhã lava todinho o tanque e na parte da tarde dá de comer porque jacaré gosta de comer é à noite”, diz.
Entre os jacarezinhos, há a presença de um jacarezão. Silva afirma que o animal está com ele desde o começo, é o mascote. “Esse foi o começo e o fim dele vai ser aqui, de velho. Quando ele quer, bota a cabeça aqui pra fora, os outros montam nele, ele é manso. Esse não vai para o abate de jeito nenhum."
Silva mantém atualmente cerca de 8 mil animais. Na hora de abater, manda para o frigorífico da cooperativa. Assim, aproveita tanto a pele, quanto a carne. (Fonte: G1)