No penúltimo dia da SELLL, colei na discussão sobre Hilda Hilst. Já ouvi falar muito dela, porém nunca li nenhum livro da mesma... os cartazes no instituto e trechos lidos pelos debatedores da mesa me ajudaram a ter mais noção tanto de sua vida quanto de sua obra. Houve questionamento sobre o que viria a ser uma literatura feminina, por exemplo (seria a literatura intimista classificada como feminina?), sobre o obsceno (que era o tema central do debate) - que é sempre lembrado quando se fala seu nome, e pude extrair várias frases sintetizadoras de pensamento muito poéticas e profundas sobre sua linha (como "desejo é eternidade" e "nada é mais miserável que a lucidez da literatura - a consciência da miséria, o que podemos ser de mais nosso").
No filme "A Prostituta Respeitosa", de uma peça de J. P. Sartre, encaramos o obsceno não como erótico, e sim como o tratamento dado entre as personagens do filme. Numa reflexão onde mostra o patamar abaixo da sociedade em que se encontra a prostituta e o negro (que sequer tem nome), e em aspectos como coerção, agressão, ocultação do prazer e do desejo, o debate com a professora Suzi girou em torno da polarização entre o obsceno e o erotismo (pois o filme, da década de 50, não possuía nada de erótico), passando, claro, pela liberdade. Pra quem não sabia o que esperar, cada vez eu me surpreendo mais com as diferentes análises e quanta coisa pode ser dita e deduzida de uma simples história.
Nebulosa Silenciosa foi uma apresentação que visava refletir sobre a censura, principalmente a existente sobre o corpo feminino. Era a que eu mais esperava, apesar de não saber o que esperar. Quer dizer, tinha alguns pré-conceitos na cabeça: uma mulher. Nua. Fazendo alguma coisa chocante pra mostrar que tinha voz e direito a fazer o que quisesse. Igreja. E não é que algumas coisas eu acertei?
Me surpreendeu terem vários homens na peça, aliás, várias pessoas. Muitas coisas acontecendo juntas, se sobrepondo. A crítica contra a religião, a santidade do corpo da mulher, a castração, o controle. A história da peça mostrada ao fundo, com vídeos da apresentação que originou a intervenção (um trabalho de TCC), slides, imagens, explicações, declamações, citações, gritos, risadas, ações "estranhas" - mas não sem sentido, violência (leve e não gratuita, simbólica), finalizando com uma procissão.
Interessante, instigador, engraçado, convite à reflexão, peças - algumas - de um quebra-cabeça presente e atuante, de forma negativa, contra a liberdade da mulher
e toda a violência desse cerceamento,
e tudo que é mostrado como se fosse normal (também discutido no curta metragem de terça-feira, o Levante Sua Voz, lindo, estilo Ilha das Flores)
e o modo como quem não aceita isso é tratado como histeria ou falta do que fazer, enquanto ali fora tem gente que ainda é agredida e estuprada (Marcha das Vadias Campinas)
boa noite crianças...
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