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sábado, 1 de outubro de 2011

Sobre Nebulosa Silenciosa, Sartre e Hilda Hilst na SELLL 2011

No penúltimo dia da SELLL, colei na discussão sobre Hilda Hilst. Já ouvi falar muito dela, porém nunca li nenhum livro da mesma... os cartazes no instituto e trechos lidos pelos debatedores da mesa me ajudaram a ter mais noção tanto de sua vida quanto de sua obra. Houve questionamento sobre o que viria a ser uma literatura feminina, por exemplo (seria a literatura intimista classificada como feminina?), sobre o obsceno (que era o tema central do debate) - que é sempre lembrado quando se fala seu nome, e pude extrair várias frases sintetizadoras de pensamento muito poéticas e profundas sobre sua linha (como "desejo é eternidade" e "nada é mais miserável que a lucidez da literatura - a consciência da miséria, o que podemos ser de mais nosso").
No filme "A Prostituta Respeitosa", de uma peça de J. P. Sartre, encaramos o obsceno não como erótico, e sim como o tratamento dado entre as personagens do filme. Numa reflexão onde mostra o patamar abaixo da sociedade em que se encontra a prostituta e o negro (que sequer tem nome), e em aspectos como coerção, agressão, ocultação do prazer e do desejo, o debate com a professora Suzi girou em torno da polarização entre o obsceno e o erotismo (pois o filme, da década de 50, não possuía nada de erótico), passando, claro, pela liberdade. Pra quem não sabia o que esperar, cada vez eu me surpreendo mais com as diferentes análises e quanta coisa pode ser dita e deduzida de uma simples história.
Nebulosa Silenciosa foi uma apresentação que visava refletir sobre a censura, principalmente a existente sobre o corpo feminino. Era a que eu mais esperava, apesar de não saber o que esperar. Quer dizer, tinha alguns pré-conceitos na cabeça: uma mulher. Nua. Fazendo alguma coisa chocante pra mostrar que tinha voz e direito a fazer o que quisesse. Igreja. E não é que algumas coisas eu acertei?
Me surpreendeu terem vários homens na peça, aliás, várias pessoas. Muitas coisas acontecendo juntas, se sobrepondo. A crítica contra a religião, a santidade do corpo da mulher, a castração, o controle. A história da peça mostrada ao fundo, com vídeos da apresentação que originou a intervenção (um trabalho de TCC), slides, imagens, explicações, declamações, citações, gritos, risadas, ações "estranhas" - mas não sem sentido, violência (leve e não gratuita, simbólica), finalizando com uma procissão.
Interessante, instigador, engraçado, convite à reflexão, peças - algumas - de um quebra-cabeça presente e atuante, de forma negativa, contra a liberdade da mulher
e toda a violência desse cerceamento,
e tudo que é mostrado como se fosse normal (também discutido no curta metragem de terça-feira, o Levante Sua Voz, lindo, estilo Ilha das Flores)
e o modo como quem não aceita isso é tratado como histeria ou falta do que fazer, enquanto ali fora tem gente que ainda é agredida e estuprada (Marcha das Vadias Campinas)
boa noite crianças...

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