Por Márvio dos Anjos
Vai-se um R.E.M., vem um Rock in Rio, e a certeza de que envelheci se aguça. Ir a um festival parece-me hoje sacrifício enorme – que há dez anos, tirava-se de letra. E a verdade é que cada vez menos bandas novas me tocam.
Vai-se um R.E.M., vem um Rock in Rio, e a certeza de que envelheci se aguça. Ir a um festival parece-me hoje sacrifício enorme – que há dez anos, tirava-se de letra. E a verdade é que cada vez menos bandas novas me tocam.
Outro dia, confessei minha falta de entusiasmo com as bandas novas a amigos que celebravam o novo momento. Para eles, finalmente o rock estava livre do culto ao rockstar; temos obras cada vez mais “abertas”e assim não somos obrigados a levar 10 canções para ouvir a única de que gostamos (é só baixá-la). E ainda se pode escolher como ouvi-las: citavam-me o último do Radiohead, que diziam ser ainda melhor na encarnação remixada. Calei-me: nunca me vi prisioneiro de rockstar, nem achava que uma obra “fechada” fosse um mal em si. Havia, sim, discos ruins e discos bons.
Sinto falta de quando o rock, em qualquer língua, tinha mais a dizer. Não exatamente uma mensagem cantada, mas uma postura contestadora de qualquer coisa. Via no rock uma estranha forma de arte, apoiada no trio gravação-show-vida. Por vida, entenda-se tudo que fosse captado pela mídia: declarações, protestos, escândalos, tudo contribuía para reforçar ou até negar a obra. Eles viviam mais intensamente que nós, e isso era também uma forma de arte poderosa – que nos alterava a alma.
Hoje, as bandas não contestam. Ao contrário, elas endossam a vida como ela já está, além de algumas marcas. Propõem quase nada além de dançar. Nada errado em si, mas é como se o rock tivesse selado um pacto de não-agressão com o mundo – e o rock sempre foi perigoso, em qualquer década. Será que o surgimento da internet decretou o fim do tédio, o inimigo comum que o rock sempre enfrentou? Se sempre temos com o que nos distrairmos assim que nos conectamos, contestar já era. Não há mais inimigos, e lugar de sonhar é na cama.
Ser legal não era suficiente para uma banda quando havia gravadoras. Triste é ver que a facilidade de produzir e divulgar rock não promoveu ambições autorais, ou vontade de dar ao público em doses generosas o fascínio dos velhos concertos de rock, que injetavam endorfina. O que tenho visto, salvo raras exceções, são grupos cool , atrás de um ou outro “hit”. Os heróis e os mitos da religião que se perdeu deram lugar a pessoas a quem não precisamos gastar muito de nossas atenções. Elas fazem shows porque gostam; afinal, se fosse apenas um disco tocando, o impacto em nossas vidas seria rigorosamente o mesmo.
que texto perfeito! sem mais a dizer! porra!
ResponderExcluirOlha... sinceramente, me parece que você tem ficado velho e não tá se adaptando ao som atual que o rock tem tomado. Rock sempre teve um numero grande de músicas\bandas que não tem uma abordagem politica forte e não contestam (Contra tudo e todos no melhor estilo Charlie Brown) em qualquer época de sua existência. O fato do estilo vim perder popularidade só faz esse numero diminuir, mas não tem nada de lero lero de antes era melhor hoje tá tudo uma bosta.
ResponderExcluirNinguém é obrigado a se adaptar cara, só postei o texto aqui como uma sugestão de discussão. Eu acho sim que hoje em dias tem várias bandas interessantes, e mesmo não gostando do rumo que o rock hoje em dia tem tomado, eu vejo que o underground sempre se mostrou tão inovador e resistente como sempre. E como sempre é dito por aí, se não curte faça você mesmo. Mas isso não impede nada de poder se mostrar o quão desanimado você anda com o rumo das coisas.
ResponderExcluirTodos os estilos sempre tiveram coisas sem sentido (sem ideal além do estético), mas pelo menos tiveram influências e fizeram parte da cultura e realidade local, não apenas para vender, como é feito hoje em dia.
ResponderExcluirO fato de certas influências e musicalidade terem mudado não é um problema, e sim uma tendência natural das coisas. Porém hoje em dia MINHA OPINIÂO (e não a do Márvio - autor - ou de qualquer outra pessoa) é que tudo foi diluído, e quem ainda ouve rádio, nem consegue mais perceber quando muda de uma música para outra. Ou então enjoa de tantos refrões nojentos e repetitivos.
Eu acho que hoje em dia tem coisa demais, e isso é bom, muita gente teve acesso a muita coisa, como o mp3, mas muita gente ficou preguiçosa pra caralho.