Páginas

domingo, 14 de outubro de 2012

Entrevista Com a Banda Estamira

Aqui vai uma entrevista com uma banda de mina muito foda de Brasília, a Estamira. Dia 11 de Novembro agora elas vão abrir o show da Crucified Barbara (Suécia) no Brasil, quem estiver por lá faça questão de comparecer! Inclusive elas estão fazendo a gravação de um videoclipe com cenas de um show ao vivo e outras, para lançar até o fim desse ano, pois ano que vem a vocalista Ludmila estará fora do país e a banda entrará num hiato (que esperamos que seja curto e que venham uns projetos paralelos por aí! ;P). 

- Dados sobre a banda: Quanto tempo ela tem, influências musicais e não musicais...

A Banda Estamira existe há mais de cinco anos. Já passou por várias formações, com excelentes musicistas e amigas. Temos várias influências distintas, pois além de ouvirmos muita coisa, viemos de percursos musicais diferentes e cada uma das mulheres que passou pela banda deixou sua marca nela. Quanto às influências, Como o trabalho das mulheres sempre foi (e ainda é) pouco mostrado, mesmo porque elas podem não se sentir confortáveis neste espaço que é o palco, tudo produzido por mulheres e de qualidade que foi chegando aos nossos ouvidos foi servindo de influência, mesmo que fora do metal core, que é o som que temos produzido ultimamente. Se fizermos uma retrospectiva que vai subindo, desde os anos 60/70 temos Mutantes, Janis Joplin, Patty Smith, Warlock, Roxette, Bangles, Joan Jett, New Order, B 52's, Siouxe and the Banches, Vixen, L7, Biquini Kill, Sonic Youth, Hole, Alanis Morissete, Dominatrix, Smashing Pumpkins, A perfect Circle, Walls of Jericho, Bleeding Through, In this Moment, Paramore, Otep, Kittie, Arch Enemy, The Agonist, Light this city, Straight line stitch e muuuuitas outras. Nos orgulhamos muito de no Distrito Federal termos acompanhado os trabalhos da Kaos Klitoriano, Bulimia, RTL, Valhalla, Mezulla, Mayombe, Senha Moral, 10zer04, Medjah, Disforme, Toda Dor do Mundo, Silente, Flanco, Lamá Sabactâni, Pulso, Helianto, Stay Away, Medjah, Poena, Gilbertos come bacon etc. Há ainda os trabalhos que tem sido feito atualmente no Brasil e que também acabam nos influenciando, pois nos dão força para continuar. É o caso da Eletrodomesticks, Penúra Zero, Dança da Vingança, Soror, Arandu Arakuá, Negando Valores, Rebel Shot Party, Egrégora, Nervosa, Scatha, Girlie Hell, No sense, Panndora, Putamadres, Anti-Corpos, Madrecita, Macumba Love, LoveKills, Sapamá, The Fluxo, Come alive, Darksides, Bertha Lutz, BabyLizz,  Noskill, Bonecas de Trapo,  etc. E você tem musicistas importantes ainda na cena rock como a super talentosa baixista Paula Zimbres, a Adriana (antiga Kaos Klitoriano, agora na ótima Terror Revolucionário), a Ellen Oléria (atualmente também na Soatá) que são figuras que nunca param de produzir algo novo. De bandas mistas ou de caras podemos citar Sepultura, Pantera, Lamb of God, Norma Jean, The Bleed, Deftones, Killswicth Engage, Meshuggah, All Shall Perish, Rage Against The Machine, System of a Down, Slipknot, Caliban, Suicide Silence, Dispised Icon, ... E as bandas independentes de nossa cidade, como Lesto!, Optical Faze, OTreze, Bootlegs, Arcanjo, Body in Flames, Etno, Cabadra, Flashover, Galinha Preta, More Tools, Podrera, Device, Phrenesy, Lost in Hate, Slow Bledding, Subversão, Trampa, Podrera, Yacoby... Aqui no DF tem muita banda foda, não dá nem para citar todas que gostamos!


Com a antiga formação, Kallyfa na bateria (Cuiabá 2009)
- Já tocavam há muito tempo? Em outras bandas (antes e agora).

Camila Soato começou a tocar violão aos 14, observando os bohêmios em rodas de choro, participou de um grupo de chorinho tocando pandeiro, depois não parou mais de participar de bandas desde pagode, funk, samba, banda de formatura, à punk, hardcore, rabicore, metal, gótico, blacktrashnewmetal... Entrou na banda Estamira em 2010 por convite da Cla (guitarrista), que a conhecia por meio do Gilbertos Come Bacon, a banda da qual fazia parte na época.
Clarissa Carvalho decidiu se tornar guitarrista ainda adolescente quando viu um clipe do Led Zeppelin. Começou a fazer aulas de violão, mas logo passou para a guitarra. Felizmente e, fora do comum, teve muito apoio de seu pai roqueiro que a ajudou não apenas com as aulas, mas com o equipamento. Teve sorte também de ter amigos e amigas que estavam aprendendo instrumentos e pôde montar a Hoochie Coochies, uma “banda de escola”, formada por garotas. Nessa época também aprendeu a tocar bateria o que lhe deu mais segurança para entender ritmo e também para compor na guitarra. Foi aí que definiu seu estilo e gosto pelo metal e consolidou-se como musicista quando foi convidada por Ludmila para tocar na banda Poena.
Ludmila Gaudad se envolveu primeiro com a feitura de zines, organização de shows, cozinha hardcoreana-metaleira para eventos roqueiros e como público, que na real é o que importa! Rs. Enquanto musicista começou como vocalista, na banda mista Poena. Quando a Poena acabou deu umas flertadas com alguns/mas músicos/musicistas da cidade, sempre no rock, mas nada firme até a Estamira.
Maiara Nunes começou a tocar bateria na igreja há poucos anos, depois foi convidada pelo Lends (seu namorado) para tocar na banda de reggae Raiz Candanga. Nessa época entrou para o projeto Ciartcum, cujo objetivo é ensinar a galera a tocar percussão e divulgar a música regional do cerrado e nordeste. Tocam maracatu, ciranda, congada, coco, etc. Maiara toca percussão e caixa no Ciartcum. Em 2011 resolveu se apresentar para a chamada que a Estamira fez para uma nova baterista. Um mês depois estreou tocando no festival Marreco’s Fest.
Sara Abreu começou a aprender violão sozinha aos 17 anos, vendo os instrumentistas na igreja e aos 20 foi pra guitarra. Teve sua primeira banda autoral (de newmetal) em 2000 Guinomos de Presépio depois e participou de bandas como Call Outside, Lamá Sabactâni (deathmetal) e Honor in Blood.

Apresentação no CONIC em 2009
- Outros coletivos e ações que fazem parte e apoiam.

Ora, se o rock tem uma tradição de ser subversivo, não é estranho que continuemos reproduzindo crenças e atitudes reacionárias e arcaicas? Portanto, achamos que as bandas têm um papel fundamental de mudança, pois a arte como um todo sempre tem a oportunidade de ser vanguarda, revolucionária, questionadora... Desta forma o rock pode (e deve!) ajudar a luta não só dos Movimentos Feministas, mas também de outros Movimentos Sociais. Esta articulação entre lutas é mais que necessária, pois estaríamos sendo hipócritas se lutássemos pelas mulheres, mas não nos importássemos com questões de raça, classe, pessoas não-humanas, ambientalismo, moradia/terra para todxs, transporte, educação libertária e de qualidade etc.
Camila não faz parte de movimento social, porém participa de alguns projetos e grupos na área das artes.
Clarissa é ativista feminista autônoma, pois não integra nenhum coletivo específico. Trabalha no governo com a temática da igualdade de gênero e enfrentamento à violência contra as mulheres. É lésbica e apóia o vegetarianismo, bem como todas as formas de discussão de desigualdades. Também é produtora de eventos artísticos para a valorização das mulheres, como a festa brasiliense “Dyke-se”.


Ludmila é feminista, lésbica, vegetariana e professora da rede pública. Mas além destas lutas anda ligada no direito ao transporte e na anti-criminalização de condutas.
Maiara considera o projeto Ciartcum como movimento, pois seu objetivo é divulgar a música regional, ensinando a galera a tocar instrumentos de percussão.
Sara está envolvida em movimentos feministas e LGBTs. Também luta pela causa vegetariana e contra a discriminação das mulheres negras.


Por que escolheram o metalcore?

Não temos muita certeza se é simples enquadrar a Estamira no que chamam de metalcore, mas o que podemos dizer é que, não foi muito bem pensado e decidido, foi acontecendo. Acho que é mais fácil pensarmos que queríamos algo pesado, viceral... Letras doídas, mas ao mesmo tempo fortes. Som rápido, mas com cadências lentas... Enfim, é uma loucura! Às vezes nos basta definirmos-nos como uma banda de metal. 

-Lugares que já passaram. Show mais marcante. Acontecimento inesperado.

Ludmila - Porão do Rock 2009
Estamos juntas desde 2007, tendo realizado shows em todo o DF e entorno, em cidades como Valparaíso, Gama, Ceilândia, Brasília, Planaltina, Taguatinga, Granja do Torto, Recanto das Emas, Jardim Ingá, Águas Lindas/GO e Unaí/MG. Participamos, inclusive, de festivais importantes, como II Encontro Hardcore Extremo Oeste, em Cuiabá/MT; o festival Vulva La Vida em Salvador/BA; 24º Ferrock, em Ceilândia; 5º Quaresmada,  Rock Sem Fronteiras, XII Porão do Rock, Móveis convida + Rolla Pedra e Festival Caça-Bandas, em Brasília; 10º Rock Cerrado do Gama e Duelo de Bandas do Gama, tendo neste vencido a disputa em 1º lugar. Não dá para dizer que show ou lugar gostamos mais de ter tocado, mas temos percebido que quando tocamos em lugares onde costumam ter menos shows a pegada do público é muito mais empolgante. Também gostamos bastante de tocar em eventos onde não tem palco, para ficar mais perto do público, numa sintonia maior. Obviamente, como toda banda, gostamos de tocar fora das nossas cidades de origem, para conhecer pessoas novas e ver como anda a cena aí pelo mundo. 


-Como é estar num meio conhecido por ser machista, com poucas mulheres tocando? E nos shows, como é a resposta do público, a surpresa?

Uma coisa é falarmos sobre a condição das mulheres, em qualquer espaço, sob a ótica feminista. Afinal, o feminismo é capaz de ter um olhar peculiar, percebe a hierarquia que existe entre mulheres e homens de forma mais profunda. Outra coisa é falarmos da subestimação das mulheres no rock - o que é evidente para todxs. A nossa análise é de que a discriminação é evidente: rock não é lugar de mulher e mulher não tem opinião nem talento musical, apenas corpo. Essa é a idéia do senso comum e que a maior parte das pessoas reproduz sem sequer perceber, mesmo que, felizmente, ela não seja compartilhada por todas as pessoas que fazem parte de algum meio rock. A discriminação é uma construção histórica e justamente por isto, as resistências a ela por variados meios, inclusive as feitas por bandas de/com mulheres estão por aí resistindo e há tempos.  Mas isto não quer dizer que é fácil ocupar este espaço.  Vemos que ainda há sim, apesar de a galera do rock insistir em dizer que só se importa com “som de qualidade”, piadinhas fora do palco e dirigidas a ele quando há mulheres tocando. Talvez o senso do ridículo esteja caindo em algumas pessoas e podemos dizer que a discriminação esteja se tornando cada vez mais camuflada (mas não necessariamente menor) perante a mulherada que anda produzindo coisas excelentes nos palcos.  Entretanto, para Estamira não é apenas um problema que o tempo vai fazer parar naturalmente. Não, pensamos que isso é algo que tem que ser falado e combatido de frente.
Como a Estamira é uma banda de metal, já vimos vaááárias vezes pessoas estupefatas com o fato de a baterista saber usar pedal duplo, ou de uma guitarrista fazer solos e a vocalista soltar um berro gutural em que não se identifica se é um homem ou uma mulher no palco. Essa surpresa ocorre porque não se espera esse tipo de som de mulheres. E por mais que seja uma surpresa “boa”, ela já evidencia um preconceito, se não, não teria surpreendido. Se fossem caras tocando, as pessoas achariam “normal” e prestariam apenas atenção na qualidade do som. No nosso caso, primeiro a pessoa leva um tempo para acreditar que são mulheres tocando, e a partir daí esperamos que já comecem a prestar atenção no som, porém reparamos por meio das piadinhas de alguns machistas, que antes de conseguirem prestar atenção no som, perdem seu tempo reparando em nossos corpos, se somos bonitas, gostosas, sexis, e todos esses padrões esperados das mulheres quando sobem ao palco. O legal é que mesmo esse povo sexista logo se engana, pois percebem que não estamos lá pra isso e sim pelo rock, e logo um berrão em seus ouvidos os chamam pro show, hehe. Cada vez menos temos notado piadinhas machistas em nossos shows. Se não for por um aumento do respeito às mulheres em geral, já é bom saber que muitos já conhecem a banda e sabem que não toleramos isso. Quando rola esse tipo de machismo, costumamos dizer algo curto e grosso para não dar espaço a um bate-boca que pode prejudicar o show e ao mesmo tempo para evitar ficarmos submissas, como se tivéssemos que aceitar tudo como se fosse “piada ou brincadeira inofensiva”, famosa desculpa que as mulheres cansam de ouvir todos os dias
.
Sara - Cuiabá 2009
Pergunta do Renato Maia via facebook: "Gostaria de saber o que o pessoal da banda acha sobre a conivência de pessoas que se dizem punks e libertárias com skinheads que, mesmo se dizendo antifascista continuam preservando elementos originais da cultura skin como o machismo, homofobia, autoritarismo e ganguismo."

É complicado exigir que as pessoas se afastem de todo mundo que é machista, racista, homofóbico etc porque infelizmente esses valores estão arraigados e começam dentro de casa. Ao longo de nossas vidas vamos tecendo relações muito profundas com pessoas extremamente conservadoras, que acabamos amando demais e não conseguimos simplesmente extirpá-las de nosso convívio. Além disso, sendo todos estes preconceitos estruturais, eles estão em todas as partes, inclusive em nós mesmas e é uma luta diária para cada uma de nós admitir isso e buscar ter atitudes libertárias além do discurso libertário (que, aliás, é muito simples de ser feito, não é mesmo?)
O que podemos dizer é que tentamos ser coerentes com o que acreditamos e vivemos em nosso cotidiano, por isso enquanto banda tentamos estar sempre ao lado de outras bandas que compartilham de nossos ideais e nos manter com uma distância saudável de espaços e pessoas que afrontam diretamente nossas lutas.

Contatos da banda

Myspace: http://www.myspace.com/bandaestamira
Twitter: https://twitter.com/BandaEstamira
Facebook: http://www.facebook.com/banda.estamira

Atualização pós-postagem:
O clipe OFICIAL da banda saiu, da música Raimunda Honório, e tá foda demais! Confiram:


2 comentários:

  1. Essas meninas são demais! Espero que não fique muito tempo parada, e que volte ainda melhor. ;p
    Muito boa a entrevista, parabéns!
    Coloca ai um link pra quem quiser ver/ouvir a banda.

    ResponderExcluir
  2. Baixar o Documentário - Estamira - http://mcaf.ee/tvjf4

    ResponderExcluir