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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Relatos da Marcha das Vadias de Araras




"Do Canadá para o mundo, do mundo para as capitais do Brasil, das capitais para Campinas, Araraquara, São Carlos e um dia vejo no Facebook um convite para uma reunião da organização da Marcha das Vadias em Araras. Seria num sábado, no Centro Cultural. Fui.
Conhecia as meninas de vista, não tinha amizade com ninguém ainda, mas senti firmeza nessas jovens cheias de vida e meu coração pediu que eu ficasse com elas e abraçasse essa causa.
E lá fui eu! Convidei colegas de luta para a segunda reunião, ofereci minha chácara para uma festa no dia 14 de agosto a fim de arrecadar fundos para a faixa (Marias do Patrocínio das Vadias), os panfletos, os pincéis, o guache e as cartolinas, desmarquei viagens, criei o Yoga, Tai Chi e Meditação na Praça Barão de Araras no dia 2 de setembro para mobilizar a cidade no Combate à Violência contra a Mulheres e as crianças e finalmente, no dia 8 de setembro, vesti minha calça hippie e a parte de cima do meu bikini preferido, me pintei feito índio e lá fui eu, barrigão de fora, marchar com elas Praça Barão afora, Rua Julio Mesquita adentro!
Enquanto o microfone e a batucada retumbavam com explicações sobre a nossa causa, eu ia pela calçada. Dando panfletos para a mulherada e explicando rapidamente: “Isso é pra apoiar as mulheres, para que elas parem de apanhar caladas!”
Mesmo agora, escrevendo, a emoção volta e as lágrimas me dificultam a digitação. Mulheres simples, sofridas, rostos marcados pela vida, sorriam, me agradeciam, faziam sinal de positivo com o polegar. O sol batia, o vento fresco acariciava meu corpo livre e uma sensação de bem aventurança e paz me inundaram durante todo o percurso e até hoje perdura.
Resisti muito e me dei muito mal não seguindo meu coração ao longo de minha vida.
Hoje aprendi e descobri quando há verdade, há paz e se há paz, há luz. E agora, tudo o que eu sinto é paz e uma vontade imensa de continuar lutando pelo direito das mulheres e das crianças ao lado dessas guerreiras e desses guerreiros que fizeram a Marcha das Vadias de Araras acontecer!!!!

Me sinto extremamente honrada e grata por fazer parte do Coletivo da Marcha das Vadias que é composto por pessoas sérias, comprometidas e dignas. VALEU GALERA!!!" (Drizotti)

"Achei legal a marcha porque Araras não tem movimento político do povo... nunca vimos pessoas marchando nas ruas que não fosse em forma de religião, ou uma maratona... gosto muito da ideia de que tenhamos outras reivindicações: para a cultura, para educação - professores e alunos, pais e diretores - , que tenhamos luta dos trabalhadores no setor privado a favor de melhores condições, funcionários públicos também... A questão é que Araras, a população de Araras, nunca se demonstrou insatisfeita - por mais que se sentisse assim... nunca se revoltou muito menos agiu para mudar alguma coisa que não lhe agradasse na cidade - ou encontrou o que queria fora da cidade, ou simplesmente se acostumou a viver sem.
Precisamos mostrar pra esse povo que quem faz a cidade é quem vive nela; mostrar que estamos aqui pra fazer dessa cidade uma "cidade encantamento" ... rs
Gosto de muitas pessoas nessa cidade, mas realmente, muitas vezes, de uma forma geral, a população se mostra conivente com as coisas que não lhes agradam... podemos mudar esse quadro de coisas X que quero mudar... A marcha das vadias parece que foi um start pra uma movimentação política do povo...
E realmente uma das coisas mais horríveis é a opressão e violência... contra a mulher, animais, adultos - nesse caso as mulheres estão de parabéns por terem sido pioneiras na nossa cidade a marchar contra a opressão e violência :D" (
Felipe Harter)


"A gente percebe quando acontece alguma coisa feminista ou direcionada para mulheres como a Marcha das Vadias, um evento de 8 de Março, alguma reivindicação quando há um monte de mulheres no meio, na organização, na frente do problema... mas não percebe que em todas as outras coisas, quase nunca há mulheres, a não ser em coisas específicas (como certas profissões, principalmente aquelas relacionadas a cuidado,  educação e afazeres minuciosos ou caseiros - secretariado, limpeza, cozinha).
 Quantas mulheres você conhece que sei lá, possuem uma empresa, trabalham com algo que não é incentivado na infância e vêm do desejo pessoal, como tocar um instrumento musical? Ahn, preferecialmente aquelas lendas do capitalismo - quantas mulheres assim você conhece que tiveram que lutar pra isso, e não tiveram tudo no colo como a maioria dos homens (e mulheres brancas) já ganham no kit nascimento? Poucas né? Se realizar profissionalmente, ou em outros campos da vida, ainda não é simples pra mulher, mesmo agora que ela conquistou esse incrível direito de sair de casa pra trabalhar fora e realizar sua tripla jornada diária (casa, filhos e... trabalho remunerado! - o único, também). Mas opa! Ela tem que voltar pra casa cedo, pegar as crianças, fazer janta para o marido! Além de tudo, se andar sozinha de noite na rua, de qualquer jeito que for, temos a patrulha social do machismo (já não bastava toda as preocupações que lhe foram incutidas na infância), que te ronda com a possibilidade de um estupro. E ainda tem gente que acha que feminismo é desnecessário...
Tudo isso pra dizer que a necessidade de ações como essas ainda é grande, tanto a das Marchas das Vadias que aqui no Brasil tomaram proporções enormes e abraçaram pra si várias reivindicações feministas como descriminalização do aborto, real libertação sexual, não homofobia, direitos realmente iguais - igualdade no sentido de equidade - e tantas outras; quanto tantas outras lutas do dia a dia, imperceptíveis, que ganham mais fôlego pra continuar..."
su

Imagens: Nathália Ferreira, Gabriela Nascimento, Rodrigo Cremasco, Eliane Pessotto, Talitha Roncolato e outrxs que por ventura esqueci no garimpo das imagens da internet...

Um comentário:

  1. Ótima postagem! Gostei da maneira como organizou, com falas de pessoas que compuseram a organização.

    É bom demais saber que a nossa luta está realmente conectada e acontecendo simultânea!

    Beijos :*

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