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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Casal anticonsumista vive sem geladeira e TV em SP

Você acha que seria possível viver sem geladeira? E sem televisão? O casal Juliana Morari, 26, e Lúcio Tamino, 27, vive assim. E muito bem, pelo que dizem. Há dois anos, mudaram-se de uma região mais urbana da metrópole de São Paulo para a serra da Cantareira, nos limites do município, onde consomem "somente o necessário".

"Já que procuro sempre comer frutas e legumes frescos e não consumo nada derivado de animais, que estraga fora da geladeira, não preciso dela", explica Juliana, que se identifica como pesquisadora de dança. Ela planeja no máximo experimentar um sistema africano de refrigeração com vasos de cerâmica.

Sobre a falta de TV, diz : "Assim, evitamos o apelo comercial que chega tanto pela TV como por lanchonetes e outras grandes lojas"

Eles são um exemplo de até onde podem chegar cidadãos preocupados com o ambiente - e, no caso deles, também com a saúde, os animais, e o "todo à sua volta".

Relatório publicado pelo Worldwatch Institute na semana passada apoia atitudes como a deles. A organização, baseada em Washington, tira o foco no governo e em acordos internacionais. Avisa que o desenvolvimento sustentável do planeta e a luta contra o aquecimento global passam por uma renúncia ao consumismo.

Juliana diz que não compra produtos "supérfluos", ainda mais quando são industrializados, como biscoitos recheados e iogurte.

"Possuem corantes, conservantes e outros ingredientes que podem fazer mal", diz. Quando o casal precisa mesmo de algo industrializado, como óleo, opta por cooperativas. "Priorizo produzir eu mesma biscoitos e pães caseiros para nosso consumo."

O sustento financeiro do casal vem de Lúcio, artista plástico. Mas, como evitam o consumismo, não necessitam de muito dinheiro, diz Juliana.

O único eletrônico que declaram possuir em casa é um computador, por onde atualizam site contando sua experiência.

Absorvente reaproveitável - Há outros que não têm um estilo de vida como o de Juliana e Lúcio, mas, ainda assim, buscam renunciar ao consumismo. A Folha Online ouviu casos curiosos de renúncia às compras tidas como excessivas. Algumas medidas, como a da professora Tânia Regina Vizachri, 23, chamam a atenção.

Em vez de utilizar absorventes íntimos descartáveis, ela adotou os chamados "abiosorventes". São de pano reutilizáveis.

"Isso evita ter que ir sempre comprar na farmácia e produzir mais lixo", explica ela. "Além disso, há os produtos químicos do produto industrializado que também causam impactos."

O site do produto estima: "cada uma de nós irá consumir, ao longo da vida fértil, algo em torno de 10 mil absorventes descartáveis, que ficarão aí pelo mundo por volta de uns cem anos pelo menos".

E quando seu celular quebra, você pensa em consertar ou compra outro? Como muitos desses aparelhos são baratos, o biólogo Leandro Sauer Carrillo, 26, aponta que a tendência é mesmo comprar outro. "As pessoas não se preocupam com o que vai virar depois o produto", diz.

"O visor do meu celular quebrou há cerca de dois anos, depois de um ano de uso", conta ele. "Ao invés de jogar fora, consertei, por 10% do valor do aparelho." Outra aventura do aparelho foi molhar - problema que ele diz ter resolvido ao secá-lo.

Hoje Leandro não está mais com o celular, mas o deu em boas condições de funcionamento para sua mãe, atual usuária.

Uma semana para pensar - Outra preocupação do biólogo é na hora de fazer qualquer compra: "Antes pense no seu custo-benefício por uma semana", sugere ele. "Se, no fim do período, ainda quiser comprar, OK. Senão, provavelmente era algo que você acabaria não usando."

Ele exemplifica com a última coisa em que pensou em comprar: uma máquina de fazer suco que viu em propaganda na televisão.

"Parecia legal, mas depois, ao ver funcionar, percebi que desperdiçava partes da fruta que também poderiam ser aproveitadas, gerava muito resíduo", conta Leandro, que desistiu da compra.

Outro objeto de consumo que o biólogo cobiça há cerca de quatro anos é uma TV LCD. Mas recusou até hoje a compra pela decisão consciente de esperar: "A tecnologia avança muito rápido, logo vai ter outra opção mais avançada", pondera.

"Além disso, quanto tempo vou ter para isso? Se eu tiver uma TV pior provavelmente vou ter até menos vontade de assistir e vou poder fazer outras coisas mais saudáveis."

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