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sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Manifesto Masculinista





1 - CABECINHA
Nas questões ligadas à discriminação e aos papéis sexuais, as mulheres já estão na sua, os homosexuais idem, os bi também, e até os machões se organizam e se solidarizam, como se viu no caso daquele cara que ferrou a mulher no rosto e teve apoio da Associação dos Maridos Traídos, fundada no Ceará. Todos os setores se mobilizam. E como ficamos nós, que não somos mulheres, nem homosexuais, nem bi, e rejeitamos o modelo machista que nos é imposto desde criancinhas como a marca da masculinidade? A resposta está no masculinismo – uma movimentação crítico-autocrítica, reivindicativa, desfrutativa, solidarista e convivencial.
Sabendo que de carta de princípio e discursos generosos a humanidade já está de sacos e ovários repletíssimos, colocamos os dedos nas feridas através de um manifesto e proclamamos, indicativamente, o que rejeitamos e pretendemos transformar para viver melhor.
2 - COMEÇO DE PENETRAÇÃO
MMN - Movimentação Masculina Nordestina.
Símbolo: um cacto ereto ou em repouso.
Observação: um cacto sem espinhos.

  • contra o terror machista.
  • contra a ditadura clitoriana.
  • contra o homosexualismo autoritário.
  • pela reconciliação do espermatozóide com o óvulo.
Renunciamos a todas as prerrogativas do poder machista.
Que omem seja escrito sem "H".
Não nos consideramos superiores nem inferiores às mulheres, aos homosexuais e aos bi: somos diferentes e iguais.
Rejeitamos todos os modelos pré-fabricados de sexualidade, caretosos ou vanguardeiros, partindo de três princípios: 1) carência não se inventa; 2) receita, somente de bolo; 3) vanguarda também é massa.
Somos solidários com qualquer saída (ou entrada) sexual que a humanidade venha a inventar e curtir, desde que não haja imposição e violência. E exigimos que se respeite a nossa opção fundamental: gostamos é de mulher.
3 - APROFUNDANDO A ENTRADA
  • Abaixo o guarda-chuva preto. Não somos urubus.
  • Abaixo as exigências do paletó e da gravata.
  • Contra o relógio bolachão.
  • Pelo direito de mijar sentado.
  • Pelo respeito ao pudor masculino: mictórios privativos.
  • Pelo amparo aos pais solteiros e abandonados pelas mulheres amadas desalmadas: creches nos bares.
  • Queremos pensão por viuvez, auxílio alimentação e licença paternidade.
  • Não amamentamos mas podemos trocar fraldinha.
  • Pela liberação da lágrima masculina
  • Contra o fechamento do mercado de trabalho aos homens: queremos ser secretários, telefonistas, babás, etc.
  • Não queremos ser "chefes" de família nem regentes sexuais. Igualdade fora e em cima da cama.
  • Queremos trepar mais por baixo.
  • Queremos ser tirados pra dançar.
  • Queremos ser cantados e comidos.
  • Pelo nosso direito de dizer não sem grilos nem questionamentos da nossa masculinidade.
  • Pelo direito de brochar sem explicação. Mulher também brocha. Aquele ou aquela que nunca brochou que atire a primeira pedra.
  • Abaixo a máscara da fortaleza masculina. Queremos ter o direito de assumir nossas fragilidades.
  • Abaixo o complexo de corno. Por que mulher não é corna? Fidelidade ou infidelidade recíproca.
  • Cavalheirismo é cansativo e custoso. Delicadeza é unisex. Que seja extinto o cavalheirismo ou se instaure, também, o damismo.
  • Queremos receber flores.
  • Exigimos a modificação do Pai Nosso:
    a) Pai e Mãe nossos que estais no céu...;
    b) bendito seja o fruto do vosso ventre, do nosso semen.
  • Pela capacitação dos homens, desde a infância, para as tarefas tidas como "essencialmente feministas". Reciclagem geral. Queremos aprender corte e costura, culinária, cuidado de crianças etc. Em contra partida, ensinaremos às mulheres: trocar pneu de carro, bujão e fusivel; dar porrada, atirar e espantar ladrão; matar barata e rato.
  • Pela paternidade responsável e contra a gravidez e os filhos serem utilizados como elementos de chantagem sentimental sobre nós.
  • Pelo respeito à intuição masculina.
  • Denunciamos a utilização depreciativa das expressões "cacete", "caralho", "pra cacete", "pra caralho". Exigimos que cada um ou cada uma se posicione: cacete/caralho é bom ou não é? Se é bom, respeitem como ao seu pai ou a sua mãe.
  • Protestamos contra o fato do nosso órgão do amor ser representado, simbolicamente, por espadas, canhões, porretes, e outros instrumentos de agressão e guerra. Só aceitamos a simbolização a partir de coisas gostosas e sadias: chocolates, biscoitos, bananas, batons, picolés, pirulitos, etc.
  • Denunciamos como principais vias condutoras do machismo: as vovozinhas cândidas, as mulherezinhas dondocas, as mãezinhas possessivas e as professoronas assexuadas.
4 - EMPURRADINHA FINAL
Considerando que muitos masculinistas trabalham dois expedientes, estudam e frequentam um milhão de reuniões e eventos, sem falar das poligamias possíveis, não iríamos incorrer na atitude fascista de inventar mais uma reunião para a comunidade masculinista. Portanto, o nosso princípio de organização é o seguinte: grupos de um, cada grupo obedece a seu chefe. Assembléias gerais com ego, id e superego. Voto de minerva para ego.
Convencidos de que a perfeição não é uma meta e é um mito, procuramos fazer um esforço no sentido de romper com 70% do nosso machismo atual e acrescentar sempre novos itens neste manifesto, aceitando a contribuição crítica e propositiva de todos os masculinistas e outros segmentos sexuais, preservada a nossa opção fundamental pelas mulheres.
Denunciamos os machões enrustidos, que utilizando o discurso masculinista, pretendem apenas dar os anéis para não perder os dedos: recuam em 30% de machismo para manter os 70%. É a Nova República do machismo.
Somos todos oprimidos. E sendo os homens, estatisticamente, minoritários diante das mulheres, isto já nos caracteriza como minoria oprimida. Nós, homens masculinistas, sofremos a pressão dos machões, das feministas sectárias e dos homossexuais autoritários – o que nos caracteriza como a menor minoria oprimida. Requeremos, portanto, o apoio extremo e a solidariedade máxima por parte da sociedade inservil.

Esse manifesto foi afixado nas paredes de um colégio em 1985. Não se sabe onde foi publicado e se tem notícias do autor, Marcelo Mario de Melo. 
Texto retirado do site: http://www.thats.com.br/estar/botequim/manimasc.htm

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