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quinta-feira, 24 de junho de 2010

[EUA] Atenção, MOVE! Esta é a América!

[Em 13 de maio de 1985, o comando da cidade da Filadélfia governada por Wilson Goode, com explosivos fornecidos pelo governo federal de Ronald Reagan, bombardeou a casa coletiva da organização MOVE. Onze mulheres, homens, meninas e meninos foram queimados vivos e 62 famílias perderam suas casas neste ato de guerra urbana. Nenhum funcionário público passou um único dia na cadeia por este crime terrível.
Naquela época, o MOVE conduzia uma campanha para libertar nove dos seus membros detidos em uma prévia ofensiva militar desatada pela polícia da Filadélfia sob o governo de Franco Rizzo em 8 de agosto de 1978. Merle, Chuck, Janet, Phil, Eddie, Janine, Delbert, Mike e Debbie Africa foram condenados desde 30 a 100 anos de prisão por supostamente matar um policial com uma única bala. São conhecidos como os "MOVE 9" ou os “9 do MOVE”. A companheira Merle Africa morreu na prisão sob circunstâncias suspeitas em 1998.
No ano passado, os “9 do MOVE” deviam ter deixado a prisão sob liberdade condicional, mas o Conselho da Liberdade não os permitiu partir porque "não expressam remorsos" por um crime que sempre disseram que não cometeram. Este ano o Conselho escutará o caso outra vez.
O MOVE é uma organização que se define como revolucionária e anti-sistema e que defende todas as formas de vida -animal, vegetal e humana- contra a escravidão do sistema atual.
Numa carta recente, o preso político Phil Africa escreveu: "Desistir nunca! O sistema não é verdadeiramente poderoso. O sistema teme a nós de coração rebelde. O poder verdadeiro é visto na Mãe Natureza que nos protege e nos alimenta, não neste sistema débil que só nos traz morte, destruição e dor. Virá um dia quando todos e todas conseguiremos viver em paz e harmonia".
A seguir um artigo atualizado sobre a organização MOVE escrito por Hans Bennet e publicado na revista Born Black de 7 de maio de 2009.]
Atenção, MOVE! Esta é a América!” declarou por megafone o Comissário da Polícia Sambor alguns minutos antes do ataque policial contra a residência da organização revolucionária MOVE, no dia 13 de maio de 1985. No assalto policial cinco crianças e 6 adultos foram mortos, incluindo o fundador do MOVE, John Africa. Depois que a polícia disparou mais de 10.000 cartuchos em sua casa no oeste da Filadélfia, um helicóptero da polícia estatal jogou uma bomba C-4, ilegalmente fornecida pelo FBI, sobre o teto do MOVE. A bomba causou um incêndio que acabou destruindo 60 casas, uma quadra inteira em uma colônia negra. Carregando o jovem Birdie Africa em seus braços, a única outra sobrevivente, Ramona Africa, se esquivou das balas e escapou do incêndio com queimaduras que deixaram cicatrizes permanentes.
Hoje em dia, Ramona lembra que estava no sótão com as crianças quando a operação começou. “Torrentes de água correram das mangueiras. Dispararam gás lacrimogêneo depois de usarem explosivos para demolir a parte frontal da casa. Escutamos o intenso fogo de metralhadoras e logo houve mais ou menos um silêncio. Foi então que lançaram a bomba, sem aviso”.
“A princípio, nós que estávamos no sótão, não demos conta de que a casa estava em chamas, pois havia tanto gás lacrimogêneo que era difícil reconhecer a fumaça. Abrimos a porta e começamos a gritar avisando que estávamos saindo com crianças. Eles estavam gritando também. Sabíamos que eles tinham nos escutado, nos fizemos visíveis na porta de entrada mas mesmo assim eles abriram fogo. Podíamos escutar o som das balas estourando ao redor da garagem. Com máxima intenção, eles apontaram para nós e dispararam. É óbvio que pretendiam matar todas as pessoas do MOVE – não pensaram em prender ninguém”. 
Depois de sobreviver ao bombardeio, acusaram Ramona de conspiração, incitação de distúrbios e assalto simples e grave. Sua sentença foi de 16 meses e 7 anos, mas cumpriu os 7 anos após negarem a ela a liberdade condicional por se recusar a renunciar ao MOVE.
Durante o juízo, todas as acusações enumeradas na ordem de detenção para justificar a operação foram menosprezadas pelo juiz. Ramona disse: ”Isto significa que não tinham motivos válidos para estarem lá fora, mas não menosprezaram as acusações contra mim como resultado do que se passou quando apareceram”.
Ao final do juízo de Ramona em 1986, o juiz Stiles especificamente instruiu aos jurados que não deveriam levar em conta a má conduta dos policiais ou outros oficiais do governo porque eles teriam que prestar contas em outros procedimentos. Isto nunca aconteceu. Ramona explica: “Nem um só oficial, nem um policial ou qualquer outra pessoa teve que prestar contas ante a corte pelo assassinato da minha família”.
“Ninguém deve se deixar enganar quando este governo usa palavras como “a justiça”. Meus familiares, que eram os pais da maioria das crianças assassinadas nesse 13 de maio, estão na prisão há quase 30 anos, acusados de um assassinato que não cometeram. Nem uma só testemunha os identificou. Enquanto isso, aqueles que assassinaram os seus filhos seguem suas vidas normalmente. O mundo os considera pessoas respeitáveis; nunca passaram nem um dia na prisão”.
As origens do conflito
O bombardeio policial de 1985 foi a culminação de muitos anos de repressão política exercida pelas autoridades da Filadélfia. Muito se escreveu sobre os acontecimentos de 13 de maio de 1985, mas pouco se sabe dos “9 do MOVE”:  Janine, Debbie, Janet, Merle, Delbert, Mike, Phil, Eddie, e Chuck Africa. Estes nove integrantes da organização MOVE foram sentenciados coletivamente pelo assassinato do oficial James Ramp em 1978, após uma cerco policial em volta da casa do MOVE na colônia de Powelton Village, na Filadélfia.
Terão suas audiências para considerar seus direitos à liberdade condicional em 2008. Segundo Ramona Africa, “O governo chegou à Powelton Village em 1978 não para nos prender, mas sim para nos matar. Ao fracassar com isto, condenaram injustamente a minha família por um assassinato que o governo sabe que não cometeram e os prenderam com sentenças de 30 a 100 anos. Depois, quando nossa família se atreveu a denunciá-los, vieram novamente a nossa casa e nos bombardearam. Queimaram nossos bebês vivos”.
Primeiro, um pouco de história
Fundada no começo dos anos 70 por John Africa, a organização MOVE buscou descobrir e desafiar todo tipo de injustiças e abusos contra a vida em todas as suas formas, incluindo contra os animais e a natureza. O MOVE promoveu o ativismo comunitário e organizou protestos não-violentos em frente ao zoológico e laboratórios onde se realizavam testes em animais, assim como fóruns públicos e mídias corporativas, entre outros.
Os conflitos iniciais entre o MOVE e a polícia se deram quando os agentes do prefeito Frank Rizzo reagiram com sua brutalidade de sempre ante estas manifestações não violentas. Desde o começo, o MOVE praticou o princípio da autodefesa e seus integrantes “responderam ao ataques com ataques”. Ao defender esta prática, Ramona Africa disse: “Estou segura de que os policiais se aborreceram porque “estes negros” resistiam, dizendo aos policiais que não podiam chegar e atacar nossos homens, mulheres e bebês sem que nos defendêssemos. O que você acha que devíamos fazer? Ficar com os braços cruzados e aceitar os abusos?”.
Dado o regime de mão de ferro de Rizzo, um enfrentamento com o MOVE foi inevitável. Notório por sua brutalidade racista quando era Comissário da polícia de 1968 a 1971, Rizzo uma vez declarou publicamente que ia “fazer com que Átila Huno, se visse como uma bicha”. Foi eleito prefeito em 1972 com consignas tais como “Vota branco”. Em 1979, seu departamento de polícia seria o primeiro acusado pelo governo federal de brutalidade e corrupção. 
Os ataques policiais contra o MOVE aumentaram após 9 de maio de 1974, quando duas mulheres grávidas da organização, Janet e Leesing, abortaram depois de terem sido espancadas pela polícia e presas durante uma noite, sem comida nem água. No dia 29 de abril de 1975, Alberta Africa perdeu seu bebê após ser detida, arrastada até a cela, agarrada e golpeada no abdômen e na vagina.
Na noite de 18 de março de 1976, sete prisioneiros do MOVE acabavam de sair da prisão e saudavam a seus familiares em frente à sua casa em Powelton VIllage quando os policiais chegaram e atacaram todo mundo. Seis homens do MOVE foram detidos e golpeados tão severamente que sofreram fraturas cranianas, contusões e ossos estilhaçados. Janine Africa foi atirada ao chão e pisoteada enquanto carregava seu bebê de 3 semanas, Life Africa. O crânio do bebê foi esmagado e Life morreu.
Após o MOVE ter avisado aos meios de comunicação sobre os ataques e a morte do bebê, a polícia declarou publicamente que o bebê não existia porque não havia registro de nascimento, e que o MOVE estava mentindo. Como resposta, o MOVE convidou vários jornalistas e políticos para irem à sua casa e verem o cadáver. Um pouco depois do ataque, o aclamado jornalista da Filadélfia, Mumia Abu-Jamal (agora preso no corredor da morte no mesmo estado da Pensilvânia) fez uma entrevista com uma testemunha presencial que tinha observado tudo, desde sua janela do outro lado da rua. “Vi o bebê cair”, disse o velho. “Davam bordoadas na mãe do bebê. Sabia que o bebê ia ficar machucado. Peguei o telefone para chamar a polícia, mas logo me dei conta que eles eram a polícia, me entende?”. O promotor se negou a apresentar acusações pelo assassinato.
O enfrentamento começa
Como resposta à intensificação da violência policial, o MOVE convocou uma manifestação dramática em 20 de maio de 1977. Vários integrantes subiram em uma grande área na frente de sua casa, carregando o que parecia ser fuzis. Segundo o MOVE: “Dissemos para os tiras que não havia mais mortos escondidos, que desta vez teriam que estar preparados para nos assassinar abertamente porque se nos atacavam com golpes, daríamos golpes também, se nos atavam aos garrotes, os daríamos garrotes, e se nos agrediam com armas, também responderíamos com armas. Não acreditamos nas armas de morte. Acreditamos na vida. Mas sabíamos que os tiras não nos atacariam tão facilmente se tivessem que agüentar o mesmo tratamento que eles dão rotineiramente às pessoas indefesas, sem armas”.
Falando por um megafone na plataforma, o MOVE exigiu a liberdade de seus presos políticos e um fim à violenta agressão executada contra eles pelo governo da cidade. Policiais fortemente armados rodearam a casa, mas um provável ataque policial foi evitado quando uma multidão de pessoas da comunidade rompeu as linhas policiais e parou na frente da casa do MOVE para proteger os residentes do fogo.
Alguns dias mais tarde, a juíza Lynn Abraham respondeu, emitindo ordens de detenção para 11 integrantes do MOVE, acusando-os de incitar distúrbios e de terem em seu domínio um “instrumento da delinqüência”. A polícia situou vigilância ao redor da casa do MOVE para deter integrantes que saiam da propriedade. O embate durou quase um ano.
O prefeito Rizzo agravou o conflito em 16 de março de 1978, quando sua polícia fechou um perímetro de quatro quadras ao redor da central do MOVE, bloqueando a entrada de comida e fechando a chave de água. Rizzo se gabou dizendo que o bloqueio era “tão estreito que nem uma mosca podia passar”. Muitas pessoas da comunidade foram violentadas e detidas ao tentar entregar comida e água às mulheres grávidas, bebês lactantes e crianças que estavam lá dentro.
Depois do “bloqueio de fome” de dois meses, o MOVE e o governo da cidade chegaram a um acordo, sob pressão do governo federal. No dia 8 de março de 1978, os presos do MOVE conseguiram sair da prisão; por outro lado, a polícia pôde revistar a casa do MOVE para procurar armas. Os agentes se assustaram ao somente encontrar um punhado de réplicas falsas de fuzis inoperantes e alguns fogos de artifício que pensavam que eram dinamites. Segundo o acordo, o promotor teria que retirar todas as acusações contra o MOVE e efetivamente purgar o MOVE do sistema judicial dentro de 4 a 6 semanas. O MOVE, por sua vez, teria que sair de sua casa dentro de 90 dias enquanto o governo da cidade o ajudava a conseguir um novo lar.
Depois de revistar a casa do MOVE e encontrar armas de mentira, a polícia começou a modificar os términos do acordo, enfocando no prazo de 90 dias. O MOVE disse que o período foi descrito aos seus integrantes como um “plano de trabalho factível para mudar de lugar”, mas que isto “foi falsamente apresentado aos meios de comunicação como um prazo absoluto. O MOVE havia deixado clara a sua intenção de mudar de casa e, por sua vez, pretendia manter a central aberta para funcionar como uma escola”.
Na audiência do dia 2 de agosto de 1978, o juiz Fred Dibona disse que o MOVE havia violado a data limite. Assinou ordens de detenção para justificar o cerco policial que começaria na semana seguinte.
Na manhã de 9 de agosto, centenas de policiais entraram. As escavadeiras tombaram a frente da casa enquanto os guindastes destruíram as janelas. Cerca de 45 policiais armados revistaram a casa e se deram conta que as pessoas do MOVE estavam reunidos no sótão. Com mangueiras de alta pressão, a polícia começou a inundar o lugar.
De repente, disparos foram escutados, provavelmente desde uma casa do outro lado da rua. A polícia abriu fogo contra a casa do MOVE, disparando mais de 2.000 cartuchos. A polícia e a maioria dos principais meios de comunicação reportaram depois que o MOVE havia disparado primeiro. No entanto, os repórteres McCullough e Larry Rosen da radio KYW lembram que escutaram o primeiro disparo vir de uma casa da frente, em diagonal, de onde viam um braço que segurava uma arma recarregada em uma janela do 3º piso.
Logo os disparos ficaram altamente caóticos, quase todos em direção ao sótão inundado. O oficial James Ramp foi morto durante o tiroteio. Outros três policiais e vários bombeiros também receberam disparos. Depois, um oficial encarregado de vigiar a casa reconheceu que havia esvaziado sua carabina, disparando ao sótão onde escutava as mulheres gritando e as crianças chorando. Em uma reunião realizada alguns dias depois, um capitão da polícia comentou sobre a “excessiva quantidade de disparos desnecessários por parte dos policiais”.
Quando o MOVE finalmente se entregou e saiu da casa, os oficiais levaram as crianças e bateram nos adultos com furor. Chuck e Mike Africa estavam feridos pelos disparos quando estavam no sótão. A detenção violenta de Delbert Africa foi gravada ao vivo por um canal de televisão. Enquanto estava deitado no chão, os agentes da polícia golpearam sua cabeça com um fuzil e um capacete de metal e o chutaram ferozmente. Doze adultos do MOVE foram detidos.
Em uma conferência de imprensa realizada pela tarde, alguém perguntou para o prefeito Rizzo se esta seria a última vez que a Filadélfia veria o MOVE. Ele respondeu: “A única maneira de terminar com eles é re-impor a pena de morte. Os coloquem na cadeira elétrica e eu puxo a alavanca”.
A destruição de evidências
O caso subseqüente contra os “9 de MOVE" foi marcado de irregularidades com respeito aos fatos e da manipulação ilegal de evidências pela polícia.
O professor da Universidade de Temple e jornalista da Filadélfia Linn Washington cobriu o enfrentamento de 8 de agosto e o julgamento dos “9 de MOVE”. Entrevistado no documentário intitulado MOVE narrado por Howard Zinn, Washington declarou que "o Departamento da Polícia sabe quem assassinou o oficial Ramp. Foi outro polícia quem disparou sem querer. Há várias evidências de que foi um erro, mas nunca eles vão reconhecer isto. Informei-me disto ao consultar diferentes fontes do Departamento da Polícia, tanto fontes da equipe da SWAT (Armas e Táticas Especiais) como fontes da Seção de Balística".
A manipulação de evidências foi iniciada imediatamente depois da detenção dos adultos do MOVE: o prefeito Rizzo deu a ordem para que a polícia demolisse a casa do MOVE antes de meio-dia do mesmo dia. Os policiais não fizeram nada para preservar a cena do crime, realizar traços com giz, nem medir os ângulos balísticos. Numa audiência preliminar para rejeitar as cargas, o MOVE postulou, sem êxito, que a destruição de sua casa tinha os impedido de mostrar a impossibilidade física de que o MOVE tivesse atirado contra Ramp. O MOVE citou o caso dos Panteras Negras do estado de Illinois, em que a preservação da cena do crime permitiu aos investigadores estabelecer que todos os buracos de bala nas paredes e portas foram feitos pelo fogo policial.
A evidência fotográfica apresentada na corte também foi incompleta. É certo que antes de demolir a casa do MOVE, a polícia tomou fotos de estantes vazias e disseram que eles usavam para guardar armas. Não obstante, não há fotos do MOVE apontando nem disparando armas desde as janelas do sótão ou da polícia retirando armas da casa, tampouco há fotos que apóiam a teoria de que os agentes da polícia retiraram armas do chão no piso do sótão. Ao contrário, um vídeo da polícia visto na corte mostra o anterior Comissário de Polícia, Joseph O'Neill, pondo armas pela janela frontal do sótão da casa do MOVE.
Outra forte indicação da destruição intencional de evidências, é que, nos três vídeos da polícia apresentados na corte, a metragem foi apagada exatamente no momento quando Ramp recebeu o tiro.
As evidências de balísticas apresentadas sobre a morte do oficial Ramp também são contraditórias. No documentário MOVE, Linn Washington lembra a maneira em que as evidências no julgamento foram manipuladas. "Tiveram um grande problema com a autenticidade e, portanto, com a validez do relatório do examinador médico. O delegado do ministério público retirou um lápis e apagou as palavras do relatório que ele não gostou. Quando o MOVE objetava, o juiz dizia "sente-se e cale-se" e permitiu que o tipo fizesse isso".
Em 8 de agosto, o Boletim Filadélfia informou que Ramp havia sido "disparado na parte posterior da sua cabeça, segundo o relatório da polícia". O Daily News, pelo contrário, informou no dia seguinte que a ponta da bala tinha entrado pela garganta, fazendo um caminho para baixo em direção ao coração. Mais tarde, o examinador médico da promotoria pública, o médico Marvin Aronson, deu um testemunho na corte que a bala entrou pelo seu "peito e viajou em direção horizontal sem desviar para cima ou para baixo".
Num boletim recente, o MOVE demanda que se tivesse disparado desde o sótão, a trajetória da bala teria sido para cima em vez de para baixo ou horizontal, de acordo com as versões apresentadas.
Aparte isso, teria sido quase impossível fazer um disparo limpo neste momento. A água no sótão, calculada em 2.13 metros de profundidade, obrigou os adultos a carregar as crianças e os animais para evitar que se afogassem. "A pressão da água era tão poderosa que levantava as alças da ferrovia de 2 metros (estas vigas faziam parte da nossa cerca) e eles as jogaram pelas janelas do sótão em nós. Não há nenhuma maneira de que alguém pudesse ter suportado a pressão da água e dos escombros para logo atirar ou apontar para matar alguém".
Em 4 de maio de 1980, Janine, Debbie, Janet, Merle, Delbert, Mike, Phil, Eddie, e Chuckl Africa foram condenados por assassinato em terceiro grau, conspiração e várias cargas de tentativa de assassinato e roubo. Cada pessoa recebeu uma sentença de 30 a 100 anos. Outras duas pessoas que denunciaram o MOVE foram absolvidos. Consuela Africa foi réu num processo aparte porque o delegado do ministério público não achou evidências de que ela era integrante do MOVE.
Mumia Abu-Jamal escreve que os “9 de MOVE foram condenados por ser unidos, não na delinqüência, mas em rebelião contra o sistema e em resistência contra os ataques armados do estado. Foram condenados por ser membros do MOVE”.
Quando Juidge Malmed foi como convidado alguns dias depois num talk show, Abu-Jamal ligou para perguntar quem tinha matado Ramp. O juiz disse: "Não faço a menor idéia". Explicou que os membros do MOVE se consideravam como uma família e por isso ele os encontrou culpado como uma família.
As audiências de 2009
Mike Africa, filho, quer que seus pais retornem para casa. Filho dos presos Mike e Debbie, dos “9 do MOVE”, o jovem Mike nasceu na prisão algumas semanas depois de que sua mamãe sobreviveu ao fogo policial e a uma surra selvagem que recebeu em 8 de agosto de 1978. Hoje em dia, Mike explica que crescer sem pais é "muito duro. É como perder parte de você mesmo. O sistema separou às pessoas do MOVE porque sabem que é muito difícil de viver à parte da sua família".
Depois do bombardeio de 13 de maio de 1985, a avó de Mike decidiu deixar o MOVE e levou ele e a sua irmã com ela. "Não estar no MOVE e não ter papás foi muito duro. Não entendi por que meus pais estavam em prisão e isso me deu vergonha. Ninguém me explicou nada até que Ramona me trouxe outra vez ao MOVE depois de deixar a cadeia em 1992". Depois de regressar ao MOVE, Mike viajou por muitas partes do mundo para divulgar a luta pela libertação de seus pais e os outros presos e presas dos “9 do MOVE”.
Uma destas presas, Merle Africa, morreu tragicamente atrás das grades em 1998 sob circunstâncias suspeitíssimas. Em agosto de 2008 marcou o trigésimo ano de encarceramento dos “9 do MOVE”, e pela primeira vez eles tiveram o direito a liberdade condicional. Seus apoiadores organizaram um apoio público para sua saída, inclusive uma série de vídeos ao vivo, um abaixo-assinado e uma campanha para se comunicar com o Conselho de Liberdade Condicional através de cartas e chamadas telefônicas. Apesar da pressão pública, o Conselho negou o direito deles de saírem, ainda quando as mulheres nem sequer foram acusadas de carregar armas. O MOVE começou a organizar e a reunir apoio público para alcançar sua liberdade.  
Agora, em 2009, o Conselho de Liberdade convocou as audiências outra vez, e o MOVE iniciou outra campanha para enviar chamadas telefônicas e cartas em apoio à liberdade dos prisioneiros. Estão convocando uma manifestação na Filadélfia em 16 de maio, sábado, para marcar o vigésimo quarto aniversário da matança de 13 de maio 1985.
Ramona Africa se preocupa muito com as possíveis cláusulas que poderiam programar para negar-lhes a liberdade condicional.
A primeira se conhece como o artigo "tomar responsabilidade", que exige, em efeito, que um prisioneiro reconheça sua culpa para que eles ofereçam a liberdade condicional. "Isto não é aceitável; é claramente ilegal. Se uma pessoa é condenada num julgamento, é ridículo exigir que assuma a culpa mesmo quando proclama sua inocência, como é o caso com os “9 do MOVE”. A única questão relevante com referência à conceder a liberdade condicional deve ser a má conduta na prisão, algo que poderia indicar que uma pessoa não está pronta para receber a liberdade condicional. Aparte disso, eles devem consentir essa licença", explica Ramona.
A segunda é a cláusula que se refere "a natureza grave da ofensa". "Esta também é claramente ilegal porque o juiz tomou tudo isso em consideração quando emitiu a sentença. Se não houvesse má conduta, problemas, novas cargas etc., eles devem permitir que o preso ou presa saia depois de servir o termo mínimo. A negação deste direito é, no fundo, uma nova sentença. Temos que resolver estas questões porque quando nossos familiares pedem a liberdade condicional, não queremos escutar mais estas tolices".
Ramona também aconselha que as pessoas apóiem Mumia Abu-Jamal, a quem a Suprema Corte dos Estados Unidos acaba de negar-lhe um novo julgamento para determinar inocência ou culpabilidade. Ligue, escreva para o presidente Barack Obama e ao Procurador Eric Holder para abrir uma investigação sobre as violações de direitos civis no caso. Ramona diz: "A vida deste irmão está por um triz... Ele se tornou um alvo do governo porque foi o único jornalista que sempre disse a verdade sobre o que aconteceu com o MOVE. Mumia nos deu seu apoio total durante muitos anos e por isso nós lhe damos nosso apoio e lealdade agora".
Atualmente, Mumia Abu-Jamal escreve: "A calma reação do público ao intenso homicídio dos integrantes do MOVE têm preparado o caminho para uma violência estatal aceitável contra os radicais, "os negros", e todos os considerados inaceitáveis socialmente... As mentalidades distorcidas em jogo aqui são semelhantes as da Alemanha dos nazistas, ou talvez, mais ao ponto, às "My Lai" no Vietnã ou de Bagdá. São os espíritos depois que o idiótica mantra assassino fez ecoar desde Da Nang: "Tivemos que destruir a aldeia para salvá-la".
Durante todos estes anos, as autoridades nunca deixaram em paz o MOVE. A destruição de suas casas em 1978 e 1985, a detenção e sentença de morte imposta ao jornalista Mumia Abu-Jamal, que tinha reportado os conflitos do MOVE; a morte em 1998 de Merle Africa na prisão; e a batalha de custódia de 2002 sobre Zachary Gilbride Africa são alguns poucos exemplos da longa história do MOVE em seus enfrentamentos com o sistema. Esta tradição é resumida melhor pelo fundador do MOVE, John Africa, em sua fala ao júri em 1981 quando foi absolvido de cargas federais de posse de armas no famoso julgamento "John áfrica versus o Sistema":
"Já é tempo para que todas as pessoas pobres se libertem do afogadiço enganador que permeia a sociedade... Este sistema fracassou ontem, fracassa hoje e criou as condições para fracassar amanhã porque a sociedade está doente, o sistema está cambaleando, as cortes estão em plena desigualdade. Os tiras estão loucos, os juízes escravizadores, os advogados são tão justos quanto os juízes que enfrentam... treinados pelo sistema para ser como o sistema, para servir o sistema, para explorar de mãos dada com o sistema. E o MOVE não fechará os olhos diante deste monstro".
Hans Bennett
Hans Bennett é um jornalista independente e multimidiático (www.insubordination.blogspot.com) e co-fundador do Journalists For Mumia - Jornalistas por Mumia (www.abu-jamal-news.com)
Vejam a série Liberdade Condicional para os “9 de MOVE”, 2008, o documentário Confrontation in Philadelphia, 1978, e o documentário MOVE, 2004, narrado por Howard Zinn:
Tradução > Marcelo Yokoi
agência de notícias anarquistas-ana
Crianças cochicham -
Súbito, por toda a casa
cheiro de pamonha.

Teruko Oda

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